O Alberto estava de pé no meio do quarto, o olhar fixo no armário.
A luz ténue do candeeiro refletia-se na madeira polida das portas, criando sombras que dançavam suavemente nas paredes.
Lá fora, a cidade começava a adormecer. Era a mesma rotina quase todas as noites:
A Valentina despedia-se com um beijo leve, sem imaginar que, poucos minutos depois, o namorado que ela conhecia se transformaria, vestindo uma identidade que mantinha escondida até dela.
Suspirou profundamente antes de deslizar a porta do guarda-fatos.
Afastou uma fila de camisas impecavelmente passadas e ordenadas por cores, revelando o fundo falso que tinha construído com extremo cuidado.
Poucos saberiam que aquele armário escondia mais do que roupas comuns; para o Alberto, era quase um santuário secreto.
Com movimentos precisos, retirou a pequena prateleira de madeira que ocultava a entrada para a sua outra vida.
Ali, guardados com meticulosa organização, estavam os vestidos que tanto adorava.
Cada peça contava uma história: o vestido vermelho justo que usou na primeira sessão de fotos que partilhou online, as lingeries elegantes em rendas delicadas que comprava em lojas discretas, sempre atento para não ser reconhecido, e as meias de liga, dobradas com um cuidado quase reverencial.
Tocou levemente no tecido macio de um dos vestidos, sentindo a textura entre os dedos.
Era como se aquele simples gesto o ligasse a uma parte de si que apenas existia à noite, longe do olhar inquisidor do mundo exterior.
Ao lado das roupas, dentro de uma caixa ornamentada com detalhes dourados, estava o telemóvel secreto.
Comprara-o meses antes, pagando em dinheiro para evitar que qualquer registo pudesse ser associado a ele.
Era um telemóvel simples, mas servia perfeitamente ao seu propósito: dar-lhe acesso ao perfil privado do Instagram, onde se sentia verdadeiramente livre.
Ligou o telemóvel e aguardou enquanto o ecrã se iluminava. A luz suave banhou-lhe o rosto, revelando uma expressão que os outros raramente viam — um misto de ansiedade e excitação.
Com poucos toques, entrou no perfil onde publicava fotos e vídeos como o seu alter ego.
A mulher que criara no mundo digital era tudo o que ele sentia que não podia ser no mundo real: confiante, ousada, elegante. Ali vivia a Matilde.
O feed estava cheio de interações. Comentários de seguidores que elogiavam as suas fotos, mensagens privadas a que ainda não tinha respondido.
Sorriu levemente ao ler uma delas:
“És incrível. Um dia espero ter a coragem que tens.”
Aquelas palavras sempre o tocavam. Muitos dos seus seguidores eram como ele — pessoas que viviam vidas duplas, presas entre o que eram e o que mostravam ao mundo.
O Alberto sabia bem o peso daquele segredo. Namorava a Valentina há um ano e meio, e embora gostasse dela de verdade, o medo de ser rejeitado fazia-o manter esta parte de si trancada.
Recordava-se nitidamente do dia em que, há meses, quase lhe contou.
Estavam deitados no sofá da sala, a rir de um programa qualquer que passava na televisão. A Valentina virou-se para ele e perguntou:
Alguma vez te sentiste diferente, como se houvesse algo que ainda não me contaste?
O coração do Alberto disparou naquele momento. Ficou em silêncio durante alguns segundos que pareceram eternos, sentindo a garganta seca e as mãos a suarem.
Era a oportunidade perfeita para lhe dizer a verdade, para libertar aquele segredo que o consumia todos os dias. Mas, em vez disso, sorriu e disse:
Não, só estou a pensar em coisas do trabalho que não te contei, nada demais.
Ela acreditou, ou pelo menos fingiu acreditar, e a conversa seguiu sem que o assunto fosse mencionado outra vez.
Desde então, essa memória voltava sempre que considerava abrir-se com ela.
Gostava da Valentina, não tinha dúvidas disso, mas como poderia explicar algo que ele próprio ainda estava a aprender a aceitar?
As notificações continuavam a aparecer no telemóvel.
Respondeu a alguns comentários, publicando discretamente uma nova foto — uma imagem do seu reflexo ao espelho, usando um vestido azul-escuro que lhe caía sobre os ombros como uma segunda pele.
A descrição era simples, mas poderosa:
“Às vezes, o reflexo que vemos é mais verdadeiro do que o que mostramos aos outros.”
O Alberto hesitou antes de publicar. Havia algo de libertador em partilhar aquele lado de si, mas também sabia que cada nova publicação era um risco.
E se alguém o descobrisse? E se a Valentina ou algum colega de trabalho visse o perfil?
Esses pensamentos surgiam sempre que publicava algo novo, mas, no fim, o desejo de ser visto como realmente era acabava por vencer o medo.
Com a publicação feita, desligou o telemóvel e guardou-o novamente na caixa de madeira.
Depois, voltou a fechar o fundo falso e a alinhar as camisas com perfeição, como se nada tivesse acontecido.
Olhou-se ao espelho por um momento, contemplando o seu reflexo.
Ali, vestido com uma simples t-shirt e calças de ganga, era apenas o Alberto, o técnico de telemóveis, mas por dentro, sabia que era muito mais do que isso.
Era alguém dividido entre dois mundos, a tentar desesperadamente encontrar uma forma de uni-los sem perder tudo o que tinha.
Antes de se deitar, lançou um último olhar ao armário. Por enquanto, aquele segredo continuaria guardado.
No fundo, o Alberto sabia que não podia manter aquela vida dupla para sempre.
Mais cedo ou mais tarde, teria de enfrentar a verdade.
Um encontro com um seguidor aconteceu
A ideia de conhecer alguém pessoalmente surgiu meses antes, mas sempre lhe pareceu arriscada.
Várias vezes teve propostas semelhantes de outros seguidores, mas o Alberto nunca se sentiu confortável em aceitar.
Algo naquela vida virtual precisava de permanecer seguro, controlado.
No entanto, quando o Lucas lhe enviou uma mensagem direta no Instagram, algo mudou.
O Lucas tinha 46 anos, era sofisticado e seguro de si.
A sua conta era discreta, sem grandes detalhes, mas as fotos que publicava transmitiam confiança: brasileiro, um homem bem cuidado, charmoso, com um olhar tranquilo que parecia esconder histórias por contar.
A princípio, as conversas foram leves, trocas de elogios e pequenos desabafos sobre como era difícil, para ambos, equilibrar as duas facetas da vida.
Com o tempo, a ligação entre os dois tornou-se mais profunda.
O Lucas fazia-o sentir-se especial, desejado, compreendido. Conversaram durante semanas, até que, numa noite, o Lucas sugeriu um encontro.
E se nos conhecêssemos? Já percebi que moramos juntos. Sem pressas, sem expectativas. Vens cá a casa, conversamos e… só vemos onde isso nos leva.
O Alberto ficou nervoso. Tinha medo, mas também sentia um desejo crescente de viver algo real, algo fora do mundo virtual e da segurança do seu quarto.
O Lucas parecia ser alguém com quem podia ser ele próprio, sem julgamentos.
Depois de hesitar por alguns dias, finalmente aceitou.
Na noite marcada, passou mais de uma hora a preparar-se. A Valentina tinha saído, e ele sabia que teria algumas horas até que ela voltasse.
Com o armário aberto, percorreu com os olhos os vestidos pendurados, indeciso.
Escolheu, por fim, o vestido vermelho justo que tanto adorava. O tecido brilhante ajustava-se perfeitamente ao seu corpo, e combinou-o com um par de saltos pretos altos e as suas meias de liga preferidas, bordadas com renda nas extremidades.
O nervosismo fazia-lhe tremer ligeiramente as mãos enquanto se maquilhava.
Cada pincelada de base, cada traço de eyeliner, era um pequeno ritual que lhe permitia transformar-se por completo.
Olhou-se ao espelho, respirando fundo. Ali, naquele momento, não era apenas o Alberto. Era quem sempre quis ser, mesmo que apenas por uma noite.
Agora a Matilde era livre e feliz.
Antes de sair, pegou no telemóvel secreto e enviou uma mensagem ao Lucas: “Estou a caminho”.
Ao chegar ao prédio do Lucas, sentiu o coração a bater acelerado.
Olhou à volta para se certificar de que ninguém o tinha visto e subiu rapidamente as escadas.
Assim que a porta se abriu, foi recebido com um sorriso caloroso.
O Lucas era exatamente como parecia nas fotos — elegante, confiante, com um charme natural que o deixava mais à vontade.
Fico feliz que tenhas vindo — disse o Lucas, enquanto o convidava a entrar.
O apartamento era acolhedor, com uma decoração moderna, mas sem ostentação.
A iluminação suave e a música tranquila que tocava ao fundo criavam um ambiente confortável. Conversaram longamente, e a Matilde, para sua surpresa, sentiu-se incrivelmente à vontade.
Durante aquelas horas, pôde esquecer a sua vida dupla, esquecer o medo de ser descoberta. Ali, com o Lucas, era apenas ele, sem precisar esconder-se.
Contudo, quando se preparava para ir embora, o som inesperado da porta de entrada a abrir cortou a tranquilidade da noite.
A minha irmã voltou mais cedo… — murmurou o Lucas, visivelmente alarmado. — Não te preocupes, vem por aqui.
Antes que a Matilde pudesse reagir, o Lucas apontou para uma porta ao lado, que dava para um pequeno quarto de arrumos.
Sem pensar duas vezes, ela escondeu-se ali, com o coração a bater descontroladamente.
No escuro, ouviu vozes indistintas na sala e o som de passos a aproximarem-se.
Cada segundo parecia arrastar-se, como se o tempo tivesse parado.
Finalmente, após o que pareceram horas, o Lucas abriu a porta do quarto de arrumos e acenou-lhe.
Desculpa por isto… não esperava que ela voltasse tão cedo. Está tudo bem agora.
A Matilde saiu apressadamente, ainda com o coração a latejar no peito.
O Lucas pediu desculpa novamente, mas ela limitou-se a sorrir e a dizer que precisava de ir.
A adrenalina do momento fazia-lhe tremer as pernas enquanto descia as escadas do prédio. Sentia-se exausta, mas também inquieta.
O encontro, que começara tão bem, terminara de uma forma que o deixava mais nervoso do que nunca.
Regresso a casa e conflito interno a acontecer
Já em casa, perto das três da manhã, a Matilde entrou no quarto em silêncio.
A Valentina não estava. Provavelmente ainda dormia em casa de uma amiga, como lhe dissera antes de sair.
Sentou-se na cama, sentindo o peso do vestido sobre si. Por um momento, permaneceu ali, imóvel, os pensamentos a girar descontroladamente.
Pegou no telemóvel secreto e olhou para as mensagens do Lucas.
Havia uma mensagem nova:
Espero que estejas bem. Desculpa outra vez. Gostava de te ver outra vez, sem imprevistos.
Ainda sendo Matilde, o Alberto não respondeu.
O que tinha acontecido naquela noite não era apenas um susto passageiro — era uma lembrança de como tudo aquilo era arriscado.
Vivia uma vida dupla, e quanto mais o tempo passava, mais difícil era manter as duas partes separadas.
Olhando em volta, os olhos pousaram no armário, onde o fundo falso escondia os seus segredos.
Tocou levemente na caixa de madeira onde guardava o telemóvel, sentindo a culpa a crescer dentro de si. Gostava da Valentina, mas como poderia continuar com ela sem revelar quem era de verdade?
Quanto tempo mais conseguiria manter esta vida dupla?
A adrenalina começava a esmorecer, mas a inquietação permanecia. Sabia que precisava tomar uma decisão.
Não podia continuar assim para sempre. Mais cedo ou mais tarde, teria de contar a verdade — ao Lucas (sobre a namorada), à Valentina, e, principalmente, a si próprio.
Enquanto se despia e arrumava cuidadosamente o vestido e as meias no compartimento escondido do armário, sentiu um aperto no peito.
Não havia respostas fáceis. Não sabia quando, nem como, mas tinha a certeza de que o dia em que os seus segredos seriam revelados estava a aproximar-se.
Deitou-se na cama, mas o sono não veio. Ficou a olhar para o teto, perdido em pensamentos.
E se a Valentina soubesse? E se ela o deixasse? E se o mundo real fosse demasiado cruel para ele?
No escuro, sozinho com os seus pensamentos, agora o Alberto percebeu que a vida dupla que tinha estava a começar a desmoronar.
E o pior é que ele não sabia se estava pronto para lidar com isso.
Desejos e limites ultrapassados
As horas após o encontro atribulado com o Lucas arrastaram-se em silêncio.
O Alberto não conseguia parar de pensar em tudo o que tinha acontecido — o susto, a adrenalina e, principalmente, a sensação de perigo iminente que o envolvera quando quase foram apanhados.
E, no entanto, havia algo mais. Algo que não conseguia ignorar: o desejo que ainda sentia pelo Lucas.
Durante os dias seguintes, continuaram a conversar. O Lucas foi carinhoso e compreensivo, desculpando-se mais de uma vez pelo incidente com a irmã.
Aquele lado protetor e a forma como o fazia sentir especial levaram o Alberto a baixar a guarda. Não conseguia afastar-se.
A conversa fluía naturalmente entre eles, como se fossem amigos de longa data, mas com uma tensão constante a crescer em cada troca de mensagens.
Certa noite, enquanto o Alberto revia mensagens antigas no telemóvel secreto, uma nova mensagem do Lucas surgiu:
Gostava de te ver outra vez. Prometo que vai ser melhor desta vez.
O Alberto hesitou. Pensou na Valentina, no risco que corria ao continuar a encontrar-se com o Lucas, mas o desejo venceu.
Respondeu, com os dedos trémulos:
Vamos conversar. Preciso de te explicar algumas coisas. Não sei se estou pronta para ir tão longe quanto pensas…
A resposta do Lucas veio rápida, quase como se já esperasse aquele tipo de reação:
Claro, conversamos o que precisares. Mas… só te peço uma coisa: vem vestida. Gostava de tirar umas fotos contigo, só para guardar… para recordar.
O Alberto sentiu o coração a disparar. Vestir-se como Matilde — o nome que usava para o seu alter ego — fazia-o sentir-se confiante, sedutor, mas também vulnerável.
Sabia que, se aceitasse, não seria apenas uma conversa, pois era a segunda vez que se encontravam. Ainda assim, não conseguiu resistir.
O desejo de se mostrar como realmente era, de ser visto e admirado, falava mais alto.
Na noite do encontro, a Valentina voltou a dizer que ia dormir na casa de uma amiga.
A oportunidade perfeita para o Alberto sair sem levantar suspeitas.
Repetiu o ritual de sempre: abriu o fundo falso do armário, escolheu um vestido preto elegante com uma ligeira transparência na zona do decote, as suas meias de liga preferidas e saltos altos.
Desta vez, caprichou ainda mais na maquilhagem, realçando os olhos e os lábios com tons fortes.
Quando chegou ao apartamento do Lucas, sentiu-se novamente ansiosa, mas ao mesmo tempo excitada.
Assim que a porta se abriu, o Lucas recebeu-a com um sorriso caloroso, e os seus olhos brilharam ao vê-lo vestido daquela forma.
— Estás… deslumbrante — disse o Lucas, segurando-lhe a mão e conduzindo-a para dentro.
Sentaram-se no sofá e começaram a conversar.
A Matilde tentou manter o foco no que tinha planeado dizer — que precisava de limites, que aquilo ainda era novo para ela —, mas o Lucas estava relaxado, sorridente, e o ambiente era cada vez mais íntimo.
Durante a conversa, ele pegou numa câmara fotográfica e perguntou com um tom brincalhão:
— Posso? Gostava de guardar umas fotos tuas, só para mim.
A Matilde hesitou por um segundo, mas acabou por acenar positivamente com a cabeça.
Levantou-se e posou timidamente, enquanto o Lucas tirava algumas fotos.
A cada clique, sentia-se mais à vontade, mais confiante. Os elogios do Lucas eram sinceros, e a forma como ele o olhava fazia-o sentir-se desejado como nunca.
Quando a sessão de fotos terminou, o Lucas aproximou-se lentamente.
Tocou-lhe no rosto com delicadeza e, num gesto quase instintivo, beijou-o.
A Matilde correspondeu, sentindo o corpo a aquecer. O beijo foi longo, profundo, e logo as mãos do Lucas desceram para a cintura dele, puxando-o para mais perto.
Tens a certeza de que queres continuar? — perguntou o Lucas, com a voz rouca.
A Matilde não respondeu. Limitou-se a beijá-lo novamente, deixando que o momento a levasse.
Sentiu o Lucas a guiá-la para o quarto, onde o ambiente era ainda mais acolhedor, com luzes suaves e uma música tranquila a tocar ao fundo.
Ali, Matilde assumiu por completo. Já não era o Alberto quem estava ali — era a versão dele que se sentia livre, que não conhecia limites.
O Lucas pediu-lhe que se ajoelhasse, e, pela primeira vez, o Alberto, como Matilde, fez sexo oral a um homem.
O nervosismo inicial dissipou-se à medida que sentia o Lucas a guiar-lhe os movimentos, enquanto os seus gemidos preenchiam o quarto.
Quando o Lucas atingiu o orgasmo, A Matilde sentiu algo inesperado: prazer.
Não apenas físico, mas emocional. Sentiu-se no controlo, poderosa, desejada.
Deitaram-se lado a lado, ofegantes. A Matilde ficou em silêncio, enquanto o Lucas lhe acariciava o pescoço.
Uma parte de si sabia que aquilo que acabara de acontecer mudaria tudo.
O Alberto nunca tinha ido tão longe com ninguém como Matilde, e a experiência deixara-o num misto de euforia e confusão.
— Ficaste incrível — disse o Lucas, quebrando o silêncio. — Obrigado por confiares em mim.
A Matilde sorriu, mas não disse nada. Naquela noite, sentiu-se completamente viva.
E, ao mesmo tempo, soube que, a partir dali, seria impossível voltar atrás.
A adrenalina deu lugar ao medo
Os encontros com o Lucas tornaram-se frequentes nas semanas seguintes.
O Alberto, ou melhor, a Matilde, encontrava-se com ele sempre que a Valentina estava ausente.
O desejo entre os dois era incontrolável, e a cada novo encontro, sentia-se mais ligado ao Lucas.
A relação deixava de ser apenas física — havia uma intimidade crescente, uma confiança que se construía em cada troca de olhares, em cada toque.
Porém, a vida dupla do Alberto começou a pesar cada vez mais. O medo de ser descoberto aumentava a cada dia, e, ao mesmo tempo, sentia-se incapaz de parar.
A Valentina continuava sem suspeitar de nada, mas havia momentos em que parecia olhá-lo de forma diferente, como se pressentisse algo.
Foi então que, numa noite em que o Alberto se preparava para sair, o inesperado aconteceu.
A Valentina, que deveria estar a dormir em casa de uma amiga, entrou de repente no quarto, encontrando-o já maquilhado e a meio de se vestir como Matilde.
O olhar de choque nos olhos dela foi o suficiente para o Alberto perceber que o seu segredo, cuidadosamente guardado durante tanto tempo, acabara de ser descoberto.
O que é isto, Alberto? — perguntou a Valentina, incrédula.
O Alberto sentiu o chão fugir-lhe dos pés. Não sabia o que dizer, não sabia como explicar. Tudo o que sempre temera estava ali, a acontecer diante dele.
E, pior ainda, sabia que aquela revelação poderia destruir tudo o que tinha com Valentina.
A revelação finalmente aconteceu
A Valentina olhava para o Alberto com os olhos arregalados de surpresa.
O vestido preto pendia a meio do corpo dele, e as mãos tremiam enquanto segurava o batom que ainda não tinha tido tempo de aplicar.
Ficaram ambos imóveis, como se o tempo tivesse congelado. O Alberto não sabia o que dizer.
Como é que poderia explicar algo tão íntimo, algo que sempre manteve escondido?
— O que é isto, Alberto? — repetiu a Valentina, agora com um tom mais firme, mas sem levantar a voz.
O coração do Alberto batia tão depressa que sentia que podia desmaiar ali mesmo.
As palavras estavam presas na garganta. Tentou falar, mas a voz não saía.
Estava prestes a balbuciar algo — ou talvez a implorar que ela lhe desse tempo para explicar —, mas a Valentina, ao perceber o seu nervosismo, respirou fundo e aproximou-se, mantendo os olhos fixos nos dele.
— Não fales… não ainda — disse, com uma calma surpreendente. — Só quero entender.
A Valentina sentou-se na beira da cama, cruzou os braços e esperou. O silêncio no quarto era quase insuportável.
O Alberto, finalmente, decidiu falar. Com a voz hesitante, quase a sussurrar, começou a contar tudo.
— Eu… eu não sei bem como explicar isto. Não é fácil para mim. Há muito tempo que sinto… que sinto que não sou apenas uma pessoa. Durante o dia, sou o Alberto que conheces, o técnico de telemóveis, o teu namorado. Mas à noite… à noite sinto que preciso de ser algo mais.
— Algo mais? — perguntou ela, inclinando ligeiramente a cabeça, intrigada.
— Sim. Eu gosto de me vestir assim. Não é só uma fantasia, Valentina. Não é apenas o vestido ou as roupas… É como me sinto quando me transformo. Como se fosse mais verdadeiro do que tudo o resto.
A Valentina ouvia atentamente, sem o interromper. O Alberto continuou. Contou-lhe sobre o fundo falso no armário, sobre as noites em que, longe de todos, se escondia para ser a Matilde.
Falou-lhe também do perfil secreto no Instagram, onde partilhava uma versão de si que ninguém conhecia. E, com um nó na garganta, contou-lhe até sobre o Lucas.
Ao ouvir o nome do Lucas, a Valentina levantou as sobrancelhas, surpreendida. Mas, mesmo assim, manteve-se em silêncio, permitindo-lhe continuar. O Alberto explicou que havia algo em ser desejado como Matilde que o fazia sentir-se vivo, de uma forma que nunca tinha experimentado antes.
— Sei que devia ter-te contado… sei que devia ter-te deixado entrar nesta parte da minha vida, mas tive medo. Medo de te perder. Medo que não me aceitasses.
A Valentina ficou em silêncio durante longos minutos. Olhava para ele, mas o olhar não era de julgamento. Era um olhar misto de surpresa, curiosidade e… talvez uma pequena centelha de compreensão.
— Achavas mesmo que eu não seria capaz de aceitar? — perguntou ela, finalmente.
— Não sei… — respondeu o Alberto, sinceramente. — E tu? Serias capaz de aceitar?
A aceitação foi uma surpresa para o Alberto
A Valentina levantou-se da cama e começou a andar de um lado para o outro. A expressão no rosto dela mostrava que estava a processar tudo o que tinha acabado de ouvir.
O Alberto ficou parado com os nervos a consumirem-lhe cada músculo do corpo.
Ele já tinha imaginado várias vezes o que poderia acontecer se fosse descoberto: gritos, acusações, talvez até a ameaça de que ela o deixasse. Mas o que estava a ver ali, à sua frente, era algo que nunca tinha considerado.
— É muita coisa para processar, Alberto — disse a Valentina, finalmente, parando à sua frente. — Não vou mentir. Nunca, nunca na vida, pensei que o meu namorado pudesse ter… esta outra vida.
Ela apontou para o vestido e para a maquilhagem inacabada no rosto dele.
— Mas também nunca imaginei que o meu namorado tivesse tanto medo de me contar quem realmente é.
O Alberto sentiu a vergonha a tomar conta de si e baixou o olhar.
— Eu só… não queria que me olhasses de forma diferente — murmurou, quase num sussurro e com vontade de chorar.
A Valentina suspirou e, para surpresa dele, aproximou-se. Segurou-lhe nas mãos e olhou-o nos olhos, com uma expressão mais calma.
— Olha, eu preciso de tempo para me habituar a isto. Não vou mentir e dizer que é fácil. Mas o que me custa mais não é o que tu fizeste… é o facto de teres achado que não podias contar-me. Depois de tanto tempo juntos, depois de tanto que já vivemos, achaste mesmo que eu não seria capaz de te amar por completo?
— Eu… Eu não sabia — admitiu o Alberto, com os olhos a ficarem húmidos.
A Valentina sorriu ligeiramente e, para sua surpresa, levou uma mão ao rosto dele, limpando uma lágrima que começava a cair.
— O que tu fazes à noite, como te vestes, quem tu és… Isso não muda o que eu sinto por ti. Eu amo-te, Alberto. Ou Matilde. Ou seja quem fores.
O Alberto ficou sem palavras. Nunca, em todas as noites de ansiedade e medo, tinha imaginado que a Valentina pudesse reagir assim.
— Mas há uma condição — continuou a Valentina, agora num tom mais sério.
— Qualquer coisa — respondeu ele, quase em desespero.
— Tens de ser honesto comigo, daqui para a frente. Sobre tudo. Se vais continuar a ser a Matilde, quero conhecê-la. Quero conhecer essa parte de ti. Quero saber quem realmente és, sem segredos.
— Tens a certeza? — perguntou o Alberto, quase sem acreditar.
— Absoluta — respondeu Valentina, sorrindo. — Mas vamos com calma, está bem? Não sei se consigo aceitar tudo de uma só vez.
O Alberto assentiu com a cabeça, sentindo um enorme peso a sair dos seus ombros. Pela primeira vez em anos, sentiu que podia respirar.
Um novo começo e a liberdade para a Matilde
Nos dias que se seguiram, o Alberto começou a abrir-se completamente com a Valentina. Mostrou-lhe o armário, o fundo falso e as roupas que lá guardava. Mostrou-lhe o perfil privado no Instagram, explicando o significado de cada publicação. A Valentina viu tudo com atenção, um misto de curiosidade e fascínio.
— Tens bom gosto, não vou mentir — comentou a Valentina, soltando uma pequena gargalhada.
— Achas mesmo? — respondeu o Alberto, a tentar aliviar o clima com um sorriso.
— Sim. Acho que tens mais jeito para moda do que eu — brincou ela, piscando-lhe o olho.
A relação dos dois começou a mudar. A Valentina pediu para conhecer a Matilde, e, numa noite, o Alberto decidiu vestir-se na sua presença.
Quando apareceu, totalmente transformado, a Valentina ficou em silêncio por alguns segundos, a observá-lo. Depois, sorriu e disse:
— Olá, Matilde. É um prazer conhecer-te.
A Matilde sorriu de volta, emocionada. Era a primeira vez que se sentia completamente aceite, completamente livre.
A partir daquele momento, começaram a explorar juntos esta parte do Alberto. A Valentina até começou a ajudá-lo a maquilhar-se e a escolher novos vestidos.
Quanto ao Lucas, o Alberto decidiu pôr um ponto final nos encontros. Era impossível continuar a viver uma vida dupla.
O Lucas compreendeu e afastou-se, deixando o Alberto concentrar-se no que realmente importava: construir algo verdadeiro com a Valentina.
A Matilde deixou de ser um segredo escondido num fundo falso do armário.
Era uma parte de quem Alberto era — uma parte que, finalmente, podia existir sem medo.
Explorar novos caminhos entre os dois
A relação entre a Valentina e o Alberto, ou melhor, a Valentina e a Matilde, começou a ganhar uma nova dimensão.
Desde a noite em que ela o encontrou vestido como Matilde, os dois entraram numa nova fase de descoberta mútua.
A Valentina, que inicialmente precisou de tempo para processar tudo, acabou por se surpreender ao perceber que não apenas aceitava a outra faceta de Alberto, como também se sentia curiosa para explorar mais a fundo essa nova dinâmica entre eles.
Numa noite tranquila, enquanto ambos jantavam no sofá, a Matilde estava a partilhar uma das suas últimas publicações no perfil privado do Instagram.
A Valentina observava-a com atenção, encantada pela forma como ela parecia relaxada e confiante naquela versão de si mesma.
Era algo que ainda estava a aprender a integrar na relação, mas havia algo inegavelmente cativante naquela liberdade que a Matilde irradiava.
— Já pensaste… em levar isto para outro nível? — perguntou a Valentina, de repente.
A Matilde, que até então estava concentrada no telemóvel, olhou para a Valentina com curiosidade.
— O que queres dizer?
A Valentina colocou o copo de vinho na mesa e inclinou-se ligeiramente para a frente, como se fosse partilhar um segredo.
— Quero dizer… Acho que estamos num ponto em que podemos experimentar coisas novas. Já que estás mais confortável comigo a aceitar a Matilde, por que não exploramos mais… intimidade com ela?
A Matilde arregalou os olhos, apanhada de surpresa. Nunca tinha considerado a possibilidade de a Valentina querer levar a relação sexual para aquele lado.
Durante muito tempo, a sua identidade como Matilde esteve separada da sua vida amorosa com a Valentina. Agora, parecia que essas barreiras estavam a desaparecer.
— Intimidade? — repetiu a Matilde, com uma leve hesitação na voz.
— Sim. Não estou a sugerir nada demasiado fora do comum… Mas pensei em algo que nos pudesse aproximar ainda mais — disse a Valentina, com um sorriso travesso.
A Matilde inclinou-se para trás no sofá, visivelmente intrigada, mas também ansiosa. A Valentina notou a hesitação dela e continuou.
— Olha, estive a pesquisar… e encontrei uma loja online que vende brinquedos para casais. Eles têm… bom, acessórios que poderiam ser interessantes para nós.
A Matilde sentiu o coração acelerar.
— Que tipo de acessórios?
A Valentina pegou no telemóvel, abriu uma página no navegador e mostrou-lhe. Era um site discreto, com imagens e descrições de brinquedos eróticos.
No meio da página, destacou-se um strap-on — um arnês elegante, com um dildo de tamanho médio acoplado.
— Estava a pensar… Talvez pudéssemos experimentar algo assim. Acho que te iria deixar sentir ainda mais como a Matilde. E… a verdade é que também tenho curiosidade em explorar um lado meu mais… dominante.
A Matilde ficou sem palavras. Sentiu-se a corar, mas, ao mesmo tempo, a ideia de se entregar completamente à Valentina, naquela nova dinâmica, fazia o seu corpo reagir de formas inesperadas.
— Tu queres… fazer isso comigo? — perguntou, ainda surpresa.
A Valentina sorriu, inclinando-se para lhe segurar a mão.
— Quero. Mas só se tu também quiseres. Não temos de fazer nada para o qual não estejas preparada.
A Matilde respirou fundo e, após alguns segundos de silêncio, assentiu.
— Vamos tentar.
A primeira experiência com o Strap-on
Alguns dias depois, a encomenda chegou. O strap-on vinha numa embalagem elegante e discreta, o que ajudou a reduzir um pouco o nervosismo da Matilde.
A Valentina estava animada, mas fez questão de ir com calma, certificando-se de que ambos estavam confortáveis antes de começar.
Naquela noite, a Matilde vestiu um dos seus vestidos preferidos — um modelo de renda preta com um decote pronunciado — e maquilhou-se com o cuidado de sempre.
Já a Valentina usava apenas uma lingerie de cetim vermelho, deixando a excitação pairar no ar.
— Estás linda — disse a Valentina, enquanto passava as mãos pelo corpo de Matilde, que estava deitada na cama.
A Matilde sorriu timidamente, mas sentia-se completamente vulnerável.
Estava prestes a viver algo completamente novo, algo que nunca tinha imaginado até há pouco tempo.
A Valentina pegou no arnês e ajustou-o ao corpo, verificando que estava bem preso.
Depois, subiu para a cama e posicionou-se sobre a Matilde, que a olhava com uma mistura de nervosismo e desejo.
— Confias em mim? — perguntou a Valentina, olhando-a nos olhos.
— Confio — respondeu a Matilde, com a voz baixa.
Os movimentos de Valentina eram cuidadosos, mas cheios de confiança. Começou por beijar Matilde, deixando que os seus corpos se ajustassem ao ritmo de cada toque.
Com o tempo, os beijos tornaram-se mais intensos e a Valentina guiou o strap-on até ao corpo de Matilde, mais precisamente à boca dela.
Ajoelhada na cama, a Valentina segurava nos cabelos da Matilde e fazia-a chupar o dildo, forçando-a a engasgar-se.
Esta ação era excitante para ambos, com a Matilde a estar de olhos fechados, enquanto a valentina proferia algumas palavras dominantes em voz alta.
A princípio, tudo foi lento, quase experimental. A Valentina mantinha-se atenta às reações da Matilde, certificando-se de que ela estava confortável.
À medida que o tempo passava, a Valentina começou a assumir o controlo da situação com mais vigorosidade.
Havia algo naquela dinâmica que a fazia sentir-se poderosa, algo que nunca tinha explorado antes.
A Matilde, por outro lado, descobriu algo completamente novo sobre si mesma: a sua submissão. Sentir a Valentina a liderar, a controlar o ritmo e a intensidade, era incrivelmente excitante.
Cada toque, cada movimento, fazia-a sentir-se completamente rendida.
— És tão linda assim… isso, chupa bem! — murmurou a Valentina, enquanto aumentava ligeiramente o ritmo com a anca.
A Matilde fechou os olhos totalmente, entregando-se completamente ao momento.
Nunca tinha sentido algo assim — uma combinação de prazer físico e emocional que a fazia sentir-se completamente livre.
A noite avançava, e a intensidade entre a Valentina e a Matilde aumentava a cada toque, a cada movimento.
O strap-on ajustava-se perfeitamente ao corpo de Valentina, e a confiança dela crescia com o tempo. Matilde, por sua vez, estava completamente entregue, rendida a uma sensação de vulnerabilidade que nunca antes tinha explorado.
A Valentina, que até então se movia de forma cuidadosa, começou a tornar-se mais firme, guiada pelos gemidos suaves da Matilde.
A cada novo impulso, os sons no quarto tornavam-se mais altos, preenchendo o espaço com uma combinação de desejo e cumplicidade.
— Estás bem? — perguntou a Valentina, com a voz baixa e rouca, mantendo o controlo absoluto da situação.
— Sim… — respondeu a Matilde, quase num sussurro e com o corpo a estremecer com cada toque.
Com movimentos decididos, a Valentina assumiu uma postura mais confiante, explorando os limites daquela nova dinâmica.
A Matilde segurava-se nos lençóis com os dedos, agarrando-os com força enquanto os gemidos se tornavam impossíveis de conter.
No auge da intensidade, a Valentina puxou a Matilde com delicadeza, mas firmeza, para uma posição diferente.
— Quero-te assim… — disse ela, com um tom que não deixava espaço para hesitação.
A Matilde obedeceu, posicionando-se conforme as instruções, com o corpo completamente submisso às vontades da Valentina.
O ambiente entre as duas estava carregado de uma energia que combinava desejo, domínio e entrega mútua.
Os momentos seguintes foram um misto de prazer crescente e uma conexão emocional que parecia transcender palavras.
Quando a Matilde finalmente atingiu o clímax, foi como se todas as barreiras que antes existiam entre as duas se desmoronassem.
A tensão acumulada libertou-se num instante, com o corpo da Matilde a estremecer enquanto a Valentina mantinha o controlo, observando-a com um sorriso satisfeito.
— Boa menina… — sussurrou a Valentina, com o tom cheio de autoridade, mas também ternura.
Por fim, enquanto a Matilde recuperava o fôlego, a Valentina observou-a por um momento e, com um brilho nos olhos, deu a sua última instrução da noite.
— Agora… vira-te. Quero-te na posição frango assado.
A Matilde hesitou por um breve instante, mas a confiança na voz de Valentina levou-a a obedecer de imediato.
Naquele momento, a dinâmica entre as duas tornou-se clara: a Valentina tinha descoberto o seu lado dominador, e a Matilde sentia-se completamente confortável ao assumir a sua faceta mais submissa.
Quando tudo terminou, a Matilde atingiu novamente o clímax e o corpo a libertou-se de forma intensa, enquanto a Valentina observava o resultado com uma expressão de triunfo.
O momento final foi preenchido por uma mistura de cansaço e satisfação, ambas exaustas, mas incrivelmente conectadas.
Deitaram-se lado a lado, em silêncio, com os corpos ainda quentes e a respiração irregular.
A Valentina passou os dedos pelo cabelo da Matilde, um gesto carinhoso que contrastava com a intensidade que tinham acabado de partilhar.
— Não fazia ideia que íamos descobrir tanto sobre nós mesmas esta noite — disse a Valentina, sorrindo enquanto olhava para a Matilde, que agora parecia completamente relaxada.
A Matilde riu, com uma expressão de cansaço e felicidade.
— Acho que ainda temos muito para explorar juntas.
A Valentina inclinou-se para lhe dar um beijo suave nos lábios, e ambas ficaram deitadas, em silêncio, a contemplar a ligação que tinham acabado de aprofundar.
Propostas surpreendentes ainda estavam para vir
O relacionamento entre a Valentina e a Matilde cresceu de forma surpreendente nas semanas que se seguiram àquela noite intensa.
As dinâmicas de poder que descobriram juntas tornaram-se um elemento presente nas suas noites, criando um novo nível de intimidade e cumplicidade.
A Valentina, agora completamente confortável com a faceta da Matilde, explorava as possibilidades que essa parte da relação lhes trazia.
Com o tempo, o armário escondido do Alberto deixou de ser apenas um espaço secreto.
As roupas e acessórios da Matilde começaram a ganhar um lugar próprio no quarto, a partilhar o espaço com as coisas de Valentina.
E não demorou muito para que os dois começassem a experimentar ainda mais.
A Valentina, curiosa e com um lado aventureiro crescente, começou a sugerir a inclusão de novos brinquedos e acessórios na relação.
Um arnês com vibração, plugs e até um chicote suave foram sendo introduzidos, sempre com conversas abertas sobre os limites e desejos de ambos.
A Matilde sentia-se completamente submissa à Valentina, mas, ao mesmo tempo, nunca se sentira tão respeitada e desejada.
A Valentina, por outro lado, descobria cada vez mais um lado dominador em si, algo que nunca imaginou ter antes.
A forma como a Matilde se entregava a ela fazia-a sentir-se no controlo, poderosa e confiante.
Mais do que isso, via no olhar da Matilde uma gratidão sincera por estar a ser aceite e amada na totalidade.
Numa noite, enquanto ambas estavam deitadas na cama a conversar, a Valentina trouxe à tona algo que deixou a Matilde completamente surpresa.
— Estive a pensar numa coisa… — começou a Valentina, enquanto mexia no cabelo da Matilde, que estava deitada com a cabeça no seu colo e com um plug inserido.
— O quê? — perguntou a Matilde, com curiosidade.
A Valentina fez uma pausa antes de continuar.
— Lembras-te do Lucas? Aquele homem com quem te encontraste antes de me contares sobre a Matilde?
A Matilde sentiu o coração acelerar ao ouvir o nome do Lucas.
Ainda que já não tivessem contacto há algum tempo, o nome dele trazia lembranças intensas.
— Sim… lembro-me — respondeu, hesitante. — Porque estás a perguntar?
A Valentina sorriu, com o olhar divertido, mas carregado de intenções.
— Estava a pensar… E se o convidássemos para se encontrar contigo outra vez? Mas desta vez… eu ficava a ver.
A Matilde ficou em silêncio, com o rosto a corar imediatamente.
A proposta era inesperada, mas também não podia negar que algo na ideia despertava a sua curiosidade.
— Tu… queres assistir? — perguntou, ainda a tentar processar o que tinha acabado de ouvir.
— Sim — disse a Valentina, sem hesitar. — Não me sinto ameaçada por ele, se é isso que te preocupa. Sei que me amas. Mas também sei o quanto te sentiste livre e desejada quando estavas com ele.
Quero ver esse lado de ti, quero ver como é quando estás com outra pessoa, mais propriamente com um homem a sério.
A Matilde não sabia o que dizer. Por um lado, a ideia parecia completamente absurda, mas, por outro, sentia-se excitada só de imaginar o cenário.
— Só se tu te sentires confortável — acrescentou a Valentina, percebendo o silêncio de Matilde. — Não precisamos de fazer isto.
Eu pensei que podia ser algo interessante para todos nós.
A Matilde respirou fundo e o coração ficou a bater descontrolado. Olhou para a Valentina, tentando perceber se ela estava a falar a sério.
No olhar dela, só viu amor, confiança e um brilho de curiosidade que parecia impossível de ignorar.
— Vou pensar nisso — disse a Matilde, finalmente, com um sorriso tímido.
A Valentina inclinou-se e beijou-a na testa, satisfeita por ter plantado a semente daquela ideia.
— Pensa com calma. E, se decidires que queres, eu trato de tudo.
Enquanto a Matilde se aninhava nos braços da Valentina naquela noite, sabia que a sua vida tinha mudado de uma forma que nunca imaginou.
A ideia de reencontrar o Lucas, desta vez com a Valentina presente, era tão intimidante quanto excitante.
E, mais do que isso, era uma lembrança de como o amor delas tinha evoluído para um espaço de liberdade, aceitação e novas possibilidades.