Ela entrou sem pedir licença — como quem já sabia que, ali, era dela o chão e o tempo.
Ele não falou. Observou.
O silêncio foi a primeira ordem.
As mãos dela tocaram o couro da cinta com a reverência de quem entende o peso do gesto.
Ele, imóvel, esperava o comando. E mesmo de pé, era dela que vinham os fios invisíveis.
“Hoje, quem se entrega és tu”, disse com voz baixa, arranhada de intenção.
E ele obedeceu — não por submissão, mas porque ali, o poder era desejo disfarçado de entrega.
Ela era a chama. Ele, o pavio molhado.
Mas em cada toque, cada respiração presa, cada gemido contido,
ficava claro: não havia algemas suficientes para prender o que ardiam juntos.
A fivela tilintou no escuro — som de promessa.
Ele estava de joelhos agora, não por submissão,
mas porque só ajoelha quem reconhece um altar.
E ela, nua por dentro, vestida apenas de controle,
andava em volta dele como uma tempestade em silêncio.
Com um leve puxar no cabelo, ergueu-lhe o queixo:
“Olha para mim. Quero ver nos teus olhos o que não ousas dizer.”
E ele olhou — com fome, com medo, com entrega.
O primeiro golpe do cinto não foi dor, foi aviso.
Cada estalo a seguir, um poema.
Cada arfar preso na garganta, uma linha não dita.
Ele queria tocá-la, suplicar, implorar por liberdade.
Mas ali, a única liberdade era obedecer.
E ela sabia como guiá-lo entre o limite e o abismo.
Entre o “não aguento mais” e o “só mais uma vez”.
Os corpos deles suavam confissões.
Os lençóis já não sabiam separar quem era quem.
Mordidas onde a pele ainda lembrava o nome um do outro.
Unhas enterradas como raízes numa terra fértil de desejo antigo.
Quando finalmente ela se deitou sobre ele,
foi como apagar o fogo com gasolina.
Os gemidos não foram pedidos, foram explosões.
Não se ouviram palavras — só a respiração em colapso.
Apagaram o fogo, sim.
Mas não o desejo.
Esse só mudou de forma…
…e ficou a arder no escuro até que um deles acendesse de novo.